Quem se desloca ao Haiti, dois anos depois do sismo de 12 de janeiro de 2010 que fez 270 000 mortos, depara-se com campos de refugiados onde vivem 500 000 pessoas e escombros em toda a parte. Temos a sensação que o sismo ocorreu há apenas algumas semanas.
Onde foram parar os milhares de milhões de dólares de donativos para a reconstrução?
Um país em ruínas.
Dois anos após o sismo que devastou a ilha, o Haiti continua em estado de emergência: trafico de seres humanos com crianças raptadas para alimentar as redes de adopção de crianças, redes de prostituição, trafico de órgãos, violação de menores por parte dos capacetes azuis, e agora epidemia de cólera.
No entanto, logo após a tragédia, de todas partes do mundo surgia uma solidariedade pouco comum, com donativos em grande numero. A ONU calculou que durante estes dois anos, foram enviados para o Haiti mais de 1,6 mil milhões de dólares em ajuda humanitária e mais de 2 mil milhões de dólares em ajuda para a reconstrução. Neste país com 9 milhões de habitantes, isto representaria 328 dólares por habitante. Então onde foi parar esse dinheiro?
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Campo de refugiados no Haiti |
As pessoas que derem dinheiro para ajudar o Haiti pensavam que este iria parar directamente nas mãos do haitianos. No entanto, esse dinheiro foi entregue a outros governos, ONG internacionais ou empresas privadas. O povo haitiano, as ONG haitianas e o governo de Haiti não receberam praticamente nada.
Lucrar com as catástrofes.
Quem recebeu mais dinheiro da ajuda foram os próprios Estados Unidos. Por cada dólar oferecido pelos americanos, 33 cêntimos foram directamente para o reembolso das forças armadas americanas enviadas para o local, e 42 cêntimos para várias organizações privadas e ONG como "Save the Children", a FAO ou a "Pan American Health Organization".
Em outros termos, dos 1,6 mil milhões de dólares que os americanos destinaram ao Haiti; 655 milhões foram parar ao departamento de defesa americano; 220 milhões de dólares ao departamento de saúde americano para cobrir alguns gastos, dos quais a evacuação de haitianos; 350 milhões à USAID; 150 milhões ao departamento da agricultura para ajuda alimentar de urgência; 15 milhões ao departamento da segurança nacional por despesas com a imigração,...
A nível mundial, a ajuda internacional destinada ao Haiti foi parar:
- às organizações militares dos países dadores (34%),
- à ONU e ONG ligadas à ONU (28%),
- a empresas privadas e ONG (26%),
- a alimentos (6%),
- à Cruz Vermelha (5%),
- ao governo de Haiti (1%),
- a ONG haitianas (0,4%).
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Bolos feitos com terra, água e um pouco óleo para enganar a fome |
Um povo marginalizado.
O governo haitiano e as ONG haitianas foram marginalizados nas decisões e destinos dos donativos. Após o sismo, foi criada uma Comissão Interina para a Reconstrução do Haiti (CIRH), esta comissão, na realidade, privava de qualquer decisão sobre o destino do dinheiro o parlamento haitiano.
Ela era gerida por estrangeiros oriundos dos países dadores. Esta estrutura não foi concebida para ajudar os haitianos, mas sim para ajudar a entregar esse dinheiro às multinacionais estrangeiras que iriam reconstruir o país. A CIRH nunca consultou os principais interessados nisto tudo, ou seja o povo e o governo haitiano.
Dos 1490 contratos concedidos para a reconstrução do país, apenas 23 foram atribuídos a empresas haitianas, isto é, dos 194 milhões de dólares atribuídos pelos Estados Unidos, apenas 4,8 milhões foram para empresas locais, ou seja 2,5 % do total.
A Cruz Vermelha recebeu 486 milhões de dólares de donativos, apenas 2/3 desse dinheiro chegou ao Haiti. Por outro lado, sabe-se que só o CEO da Cruz Vermelha recebe um salário de 500 000 dólares por ano.
As catástrofes naturais são sempre o palco privilegiado das grandes multinacionais de reconstrução. A falta de transparência na maneira como é gasto o dinheiro é total. Muito do dinheiro prometido ainda nem sequer foi enviado e muito do que foi enviado desapareceu pelo caminho sem deixar qualquer rasto.
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