A bíblia sagrada nos relata como Davi, um pastor de ovelhas belemita, se tornou o maior rei da história do povo hebreu. Durante esse período, ele conquistou muitos amigos e companheiros de batalha. Jônatas, filho do rei Saul, mesmo sendo o herdeiro do trono pela linhagem de seu pai, percebeu a chamada divina na vida de seu grande amigo.
Durante uma das muitas investidas de Saul contra a vida do escolhido de Deus, Davi e Jônatas firmaram uma aliança que deveria defender até as futuras gerações de ambos (1 Samuel 20. 15 a 17).
Jônatas encontrou um fim trágico no mesmo dia em que seu pai faleceu (1 Samuel 31). Quando a notícia da morte do rei e de seus filhos chegou à casa de Jônatas, uma serva tentou proteger a vida de uma das crianças da casa. Infelizmente, ela tropeçou e derrubou o garoto, que ficou coxo devido á queda. O seu nome era Mefibosete (2 Samuel 4. 4).
Os anos se passaram. E com eles veio o estabelecimento do reino de Davi. Um dia ele lembrou-se de sua promessa e procurou algum descendente de Saul para poder cumprir com a sua palavra. Através de um antigo servo de Saul, Davi ficou sabendo da existência de um filho de seu grande amigo Jônatas que vivia em Lo-Debar (1 Samuel 9. 1 a 4).
Podemos imaginar a vida decepcionante do jovem Mefibosete. Alguém que descendia de uma linhagem nobre e de guerreiros valorosos, destinado a uma vida medíocre e cheia de limitações. Quem olharia para o “aleijadinho” da cidade e adivinharia que ele era um herdeiro de uma família poderosa? E que príncipe moraria naquela cidadezinha esquecida por Deus?
Aliás, Mefibosete considerava Lo-Debar o local perfeito para alguém que Deus escolheu para maltratar.
Quem sabe o filho de Jônatas estava meditando sobre a sua coleção de frustrações, quando o som de trombetas anunciou a chegada de uma comitiva portando o brasão real do Davi.
Não demorou muito para o líder da comitiva encontrar mefibosete. O oficial desceu de sua montaria e, com uma reverência destinada apenas a príncipes, explicou o propósito daquela visita:
- Venho em nome do grande rei Davi buscá-lo para uma conferência com o ungido do Senhor nosso Deus.
Imagine o que passou pela cabeça de Mefibosete. “Mandar tantos guardas para buscar um aleijado? Com certeza ele pretende exterminar a linhagem do meu pai”.
Ele deve ter imaginado mil formas de tortura e martírio nas mãos dos soldados de Davi, de forma alguma ele imaginaria que havia uma festa de “Bem Vindo” preparada em Jerusalém.
Davi recebeu o filho de seu amigo em seu palácio e lhe restituiu todos os bens de seus antepassados. O rei mostrou como havia sido fiel ao seu bom amigo Jônatas e proporcionou um lugar de honra em sua corte para Mefibosete (2 Samuel 9. 5 a 7).
Essa história tem lições preciosas para nossas vidas.
Essa história mostra o valor de verdadeiras amizades (Provérbios 18. 24).
Essa história mostra por analogia como Deus é misericordioso (Hebreus 4. 16).
Essa história mostra como ninguém está longe do alcance da graça divina (Tito 2. 11).
Essa história... Não terminou ainda!
Este artigo nasceu após eu ouvir uma musica que tinha como tema a narrativa sobre Mefibosete. Infelizmente, o foco dessa canção estava “na mesa do rei”. A mensagem gira em torno de exaltação e melhoria de vida, palavras como misericórdia, graça e fidelidades nem são mencionadas.
O que vou dizer pode surpreender alguns leitores, mas depois que Mefibosete se mudou para Jerusalém não rolou o “feliz por todo o resto da vida”. A bíblia nos mostra um momento de provação na vida do filho de Jônatas.
Quando Absalão usurpou o trono de seu pai, obrigando Davi a fugir de Jerusalém, Mefibosete decidiu montar em uma jumenta e acompanhar o seu rei e amigo. Porém, Ziba o seu servo pessoal, armou um golpe para enganar Davi e passar a herdar os bens de seu mestre (2 Samuel 19. 24 a 27 / 2 Samuel 16. 1 a 4).
O filho de Jônatas encontrou-se traído por seu servo, distante de seu bem-feitor e amigo, e cercado por pessoas que estavam servindo a um rei fora da vontade de Deus.
Ele sabia que bastava jurar fidelidade a Absalão para tentar preservar a sua vida. Mas como trair a benignidade de Davi? A sua família era digna de morte, mas Davi escolheu ser misericordioso com alguém que lhe desprezava. O bom rei havia mudado a sua vida apenas motivado pelo amor! De forma alguma ele iria trair tal gesto!
Mefibosete mostrou a sua tristeza da forma típica daqueles povos. Manteve roupas e corpo sujos, em sinal de indignação e tristeza pela infelicidade vivida na casa do rei.
Até o momento nós só tínhamos visto Mefibosete como agente passivo da bênção divina. Ele herdou a dívida de honra com Davi, ele recebeu misericórdia, ele mudou-se para Jerusalém e passou a desfrutar das regalias da casa de Davi. Agora, no momento em que a sua fidelidade foi provada, ele mostrou que aprendera a ser grato e a reconhecer a vontade de Deus na provação.
Eis as verdadeiras lições que o coxo filho de Jônatas nos ensina: Ser firme e perseverante na provação (Provérbios 24. 10), não compactuar com a injustiça (Salmo 1. 1 e 2), r, e conhecer que não merece a graça alcançada (Comparar 2 Samuel 19. 28 com Efésios 2. 5), e alegrar-se com a manifestação da vontade de Deus (comparar 2 Samuel 19. 30 com Mateus 6. 33).
Agora eu desafio os compositores a escreverem músicas contando essa parte da história de Mefibosete. Mostrar como é difícil tomar uma atitude correta diante da pressão mundana, após uma traição dolorosa e sem nenhum amigo por perto. Quero ver falar sobre amizades verdadeiras ou fidelidade á palavra empregada. Infelizmente são assuntos que estão cada vez mais longe de nossos púlpitos por que “não vendem”.
O nome do príncipe Mefibosete não consta na lista dos heróis da fé da carta aos Hebreus, mas essas palavras cabem perfeitamente ao seu exemplo de vida:
“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não vêem. Porque, por ela, os antigos alcançaram testemunho” (Hebreus 11. 1 e 2 / Grifo nosso).
Nos ajude com o seu comentário.
Extraído do: Sementes do Evangelho / O guarda de israel
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