O crescimento assustador dos acidentes de trânsito em ruas e estradas brasileiras e suas incontáveis vítimas, mortas ou mutiladas, vem causando preocupação entre autoridades em todas as esferas de governo e choca a sociedade pela freqüência assustadora em que ocorrem. Especialistas em engenharia, legislação e segurança de trânsito apontam que alguns dos fatores que contribuem para os índices de sinistros, que alçam o Brasil à quarta posição no ranking mundial de mortes no trânsito, são a falta de fiscalização efetiva, o aumento crescente da frota de veículos, o deficitário sistema de aprendizagem para novos condutores e a falta de educação e conscientização de nossos motoristas.
O caos instalado no trânsito brasileiro com o crescimento da frota de veículos e a falta de fiscalização são pontos importantes a serem considerados, entretanto, não são sozinhos os principais motivos para o número de sinistros no trânsito. A base de conhecimento e civilidade de nossos condutores talvez seja ainda o ponto de maior importância para a redução do número de acidentes e apresenta três faces distintas de atuação. Uma nação que queira realmente induzir seus cidadãos a dirigirem de forma segura e humana deve em primeiro lugar, preparar moral e eticamente estes motoristas, além de induzir à reflexão acerca das regras e proibições contidas em sua lei e as consequências que acarretam a quebra destas regras, desde as punições impostas pela fiscalização até os desdobramentos cruéis dos sinistros de trânsito.
África do Sul
Na educação de trânsito, a primeira face de atuação ocorre desde a fase escolar, ainda criança, e deve ser a premissa básica na busca de condutores mais responsáveis no trânsito. A outra face deste contexto a ser considerada se refere à educação em auto-escolas, como último estágio antes do ingresso na vida motorizada de um jovem ou reciclagem de um motorista antigo. É fato que os jovens representam uma parcela considerável responsável por inúmeros acidentes, principalmente relacionados à ingestão de bebidas alcoólicas, mas há também aquela parcela de condutores, já em fase adulta, que contribuem para os números de sinistros, através de comportamentos inadequados no trânsito, como ultrapassagens, não uso do cinto de segurança e excesso de velocidade.
A terceira face na educação de trânsito está relacionada às campanhas educativas dirigidas a públicos específicos, tais como caminhoneiros ou motociclistas. No Brasil as campanhas educativas são sutis e apenas insinuam às consequências dos sinistros com um forte apelo ao humor e à reflexão indireta através de mensagens leves de educação de trânsito. A Resolução 314/09 do CONTRAN (Conselho Nacional de Trânsito) determina que as campanhas de educação de trânsito veiculadas na grande mídia devem ressaltar ações positivas. Os aspectos negativos, como a apresentação de violência devem ser tratados com cuidado a fim de se evitar a anodinia, isto é, a banalização. Acerca do contido na resolução do CONTRAN, as campanhas educativas preferencialmente não devem ser carregadas de imagens fortes da violência recorrente dos sinistros de trânsito. São muitos os especialistas que desaprovam este tipo de método, o choque como reflexão. Diferentemente do que se prega por especialistas no Brasil, países do primeiro mundo adotaram campanhas educativas de trânsito com forte impacto visual, encenando cenas brutais que parecem reais de diferentes tipos de acidentes, ocorrido por diversos motivos, para cada tipo de público-alvo.
TAC – Áustrália
O modelo Australiano
O país pioneiro na educação de choque foi a Austrália. Em 1986, o governo do estado de Victória criou uma comissão para desenvolver atividades educativas no trânsito. O TAC, sigla para Transport Accident Comission (Comissão de Acidentes no Transporte), iniciou estudos e pesquisas de opinião para encontrar formas mais contundentes de transmitir ao público mensagens de educação de trânsito. Naquele ano os índices de mortes nas vias públicas australianas atingiam quase 3 mil vítimas, um escândalo para os padrões daquele país (no Brasil as mortes ultrapassam os 30 mil).
Foram lançadas campanhas educativas na grande mídia que mostravam ao telespectador como pequenos comportamentos errados no trânsito geravam violentos acidentes. As campanhas apresentavam gente comum em situações corriqueiras, famílias, pessoas acima de qualquer suspeita, junto aos seus círculos sociais, que se envolviam em sinistros que acabavam em morte ou mutilações. O apelo à pessoas comuns logo causou choque na sociedade. O objetivo era identificar o público com os protagonistas destas histórias mesclando imagens reais de pessoas que perderam familiares em acidentes de trânsito. A reciprocidade do público foi imediata e atualmente os vídeos produzidos pela TAC estão entre os mais vistos na internet. Como resultado, em vinte anos de campanha, os índices de acidentes caíram em quase 50% na Austrália.
O sucesso obtido pelas campanhas de trânsito australianas logo chamou a atenção de outros países. A Austrália exportou suas campanhas para países como Irlanda, África do Sul, Nova Zelândia e até o Vietnã. Outros países europeus copiaram o modelo australiano, como Republica Tcheca, Reino Unido, Itália e Estados Unidos. Além das campanhas em vídeo, estes países utilizaram-se de cartazes com imagens impactantes como instrumento de educação e sensibilização no trânsito.
Nemyslis Zaplatis - Republica Tcheca
Republica Tcheca
Preocupado com os altos índices de acidentes de trânsito, o Ministério dos Transportes da Republica Tcheca veiculou na grande mídia, em 2008, uma série de campanhas educativas para a televisão. Seguindo os mesmos padrões australianos, os tchecos focaram o choque visual como apelo para atrair a atenção do público. Os vídeos contam histórias de pessoas comuns que se envolveram em acidentes de trânsito e ressaltam as pequenas infrações como potencialmente geradoras de violentos acidentes. O slogan ” Nemyslíš-Zaplatíš!” (gíria tcheca pode significar bobeou já era!) logo chamou a atenção da população. Segundo o governo tcheco, em apenas um ano de vigência da campanha, os índices de acidentes caíram em 12% no país.
Think! - Reino Unido
Reino Unido
No Reino Unido as campanhas de trânsito abordam temas como dirigir ao celular e embriaguez na direção e, como na Austrália (embora não com a mesma ênfase), lançam mão de vídeos que enfocam as consequências de acidentes de trânsito. Outra característica das campanhas inglesas é a adoção de um humor ácido e sutil em suas publicações veiculadas na grande mídia.
Runter Von Gas - Alemanha
Alemanha
A campanha “Runter vom Gas!”, cuja tradução significa “pé no freio!” foi lançada pelo governo alemão em 2008 para conscientizar o público sobre a direção segura. Em 2012, o governo alemão, acatando o disposto pela ONU, que elegeu a década 2011-2020 no combate a violência no trânsito, adotou uma campanha mais impactante que levasse os alemães a refletirem sobre os riscos de se dirigir embriagado ou distraído.
Securite Routiere - França
França
Motoristas mal-educados, excesso de velocidade, falta de respeito aos pedestres e centenas de mortes no trânsito. Para muitos este cenário parece tratar-se do Brasil, mas esta realidade bastante semelhante ao trânsito brasileiro o fato trata-se da França, uma das maiores potências econômicas do mundo. O país europeu começou a mudar o rumo desta história a partir do início dos anos 2000 com a implementação de campanhas de trânsito mais duras e que mostravam com crueza de detalhes as consequências dos sinistros. Aliado à intensa campanha educativa os franceses também criaram leis mais duras e fiscalização implacável aos maus condutores que chegou a levar para a cadeia centenas de pessoas. A iniciativa francesa derrubou os índices de acidentes em quase 75% nos últimos 10 anos.
Campanha de trânsito - Brasil
A preocupação com a diminuição dos números de mortes no trânsito tornou-se um fenômeno mundial e atualmente mobiliza centenas de países, dos mais ricos aos mais pobres, em campanhas de educação que objetivam mobilizar os povos na busca de um trânsito mais seguro e racional. As formas que cada país conduz suas campanhas varia de acordo com a cultura de seu povo mas as ferramentas utilizadas paracem acompanhar uma tendência mais realista, com imagens fortes e com forte apelo sentimental, principalmente entre os países desenvolvidos. No Brasil este fenômeno começa a tomar forma aos poucos. Alguns Detrans já iniciaram campanhas mais contundentes, como a campanha elaborada pelo estado de Pernambuco. A resistência de especialistas sobre a exposição de violência como instrumento de educação ainda é relevante mas aos poucos começa a perder força entre os órgãos envolvidos no sistema nacional de trânsito. Uma campanha, aos moldes do publicado na Europa ou Austrália, depende de inúmeros fatores e uma cuidadosa pesquisa junto a opinião pública, para que possa ser adotado no país. Talvez, em um futuro próximo, vejamos veiculadas na grande mídia, em horário nobre, campanhas mais impactantes que causem atenção e temor em nossos motoristas sobre a prática da direção segura. Estamos engatinhando, mas a exemplo da campanha pernambucana, estamos no caminho certo.
Matéria originalmente publicada na edição 4 da Revista Mundo Trânsito – fevereiro de 2013
Fonte:
Mundo Trânsito / O guarda de israel
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